Antes de ti houve outros homens
que amei muito e perdi.
Quando me deito à noite,
tenho medo do que já sofri,
tenho medo que o meu passado volte
em sonhos para me atormentar,
enrolo-me até ficar quase invisível,
para que os monstros não me encontrem...
Falta-me a inspiração dos teus ombros sobre o meu corpo,
a segurança do cheiro da tua pele,
a tua cara a dormir na almofada ao meu lado,
tranquilo e belo como um querubim.
Faltam-me o teu tempo
e a tua respiração.
Falta-me a tua mão na minha,
quando ando na rua.
E o teu olhar a envolver-me como um manto
e o teu coração a bater ao mesmo tempo que o meu.
Fazes-me falta!
E a falta que me fazes não se resgata nas palavras,
nas esperas,
na conjugação estóica do verbo aceitar.
Eu sei que tudo o que te digo cai por terra,
que a minha espera é inútil,
que nunca saberei conjugar o verbo,
que tudo muda,
mas sobretudo o que menos desejo ou mais temo.
Mesmo assim, quem sabe se amanhã,
quando te telefonar e estiver contigo de coração fora do peito,
a confessar-te como me sinto,
sem pensar no que me vais responder,
talvez esse meu gesto espontâneo
e raro contenha a chave da liberdade.
Porque só é livre quem abraça o mundo sem reservas,
mesmo que fique pendurado por um fio,
entre a vida e a morte...
Como agora...

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